segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Proficiência Motora em Crianças e Jovens com Síndrome de Asperger

O movimento é um factor fundamental no desenvolvimento físico, cognitivo e social do ser humano.
Os sinais observados através do movimento são os primeiros a serem detectados na criança, podendo observar-se durante o primeiro ano de vida dificuldades no desenvolvimento
motor, nomeadamente nos reflexos, nas posturas precoces, no tipo e evolução da marcha, no posicionamento e no comportamento das mãos.
O movimento deve ser equacionado tendo como base uma estrutura que supõe uma integração de mecanismos neuro-fisiológicos, dependente da evolução dos sistemas piramidal e extrapiramidal. O primeiro é responsável pela motricidade fina, voluntária e ideomotora e o segundo constitui o fundo tónico motor automático.
Devemos igualmente referir o sistema cerebeloso, responsável pela harmonia espacial do movimento.
Aquele sistema contribui para manter o equilíbrio e ajuda a relacionar padrões de movimentos.
De acordo com Morato (1986), o cerebelo desempenha um papel na regulação da adaptação postural e na iniciação, execução e finalização dos movimentos voluntários, coordenando as principais vias sensoriais e motoras e permitindo o jogo harmonioso dos movimentos antagonistas. Os efeitos e as lesões sobre os diferentes níveis estruturais do cerebelo são vários e caracterizam-se, principalmente, por problemas graves quer ao nível da motricidade estática quer da dinâmica e por défices globais de controlo motor. Ao nível do equilíbrio estático e da marcha verifica-se um alargamento da base de sustentação. Em relação à execução de movimentos, estes traduzem-se por uma amplitude alterada no espaço – isometria, por perturbações na coordenação do tempo como um atraso em começar ou finalizar um movimento - cronometrista e pela incapacidade de execução rápida de movimentos alternados – adiadococinésias.
O conceito de “descoordenação motora” não está operacionalmente definido. “A descoordenação é a imperfeição habitual dos movimentos. Dizemos que alguém é inábil quando não consegue executar o que gostaria de fazer ou aquilo que gostaríamos de o ver fazer. Todos os factores que intervêm na execução de um movimento podem, portanto, pela sua insuficiência, tornar-se uma causa de descoordenação” (Wallon,1986).
Ao contrário, diz-se que os indivíduos possuem boa coordenação quando se movem facilmente e a sequência e a sincronização dos seus actos são bem controladas. Este elemento essencial de desempenho motor não é facilmente medido de modo objectivo, embora a realização perfeita em qualquer evento implique boa coordenação.
A coordenação de movimentos exige a presença de posturas suficientemente integradas e assumidas. De uma forma geral, um indivíduo terá uma função de execução precisa e ajustada se efectivamente as estruturas de equilibração estiverem intactas. Assim, se existirem problemas nas estruturas de equilibração, existem necessariamente problemas de coordenação e de motricidade fina. A eficiência motora, ou seja a adaptação correta das praxias, aparece tanto ao nível dos grandes segmentos e da sua orientação no espaço, como ao nível da motricidade fina. A possibilidade de manter uma posição no espaço é o suporte da eficiência motora, que é o mesmo que o equilíbrio postural que facilita a disponibilidade gestual, a precisão do acto voluntário e o livre jogo dos automatismos. Para existir eficiência motora também são necessários a integridade do sistema sensorial e o desenvolvimento normal do esquema corporal.
Ao contrário da existência de variados estudos sobre o desenvolvimento motor e as fases que o constituem são poucos os estudos sobre a “disfunção motora” e, embora continue a existir falta de consenso em relação à inabilidade motora na S.A., enquanto critério de diagnóstico desta, e, não sendo esta considerada como característica obrigatória para a caracterização da síndrome, esta é considerada por muitos autores, como característica fundamental da S.A. Esta característica não se verifica necessariamente em simultâneo em todas as pessoas com S.A.

CRITÉRIOS DE SELECÇÃO DA AMOSTRA

Na escolha da amostra foram considerados os seguintes critérios de selecção:
 Idades dos jovens (entre os 4 e os 21 anos e 11 meses).
 Obrigatoriedade de diagnóstico médico comprovativo de Síndrome de Asperger.
 Autorização dos encarregados de educação (Anexo1)

VARIÁVEIS

Foram consideradas como principais variáveis do presente estudo as variáveis quantitativas: idade dos jovens e proficiência motora. A proficiência motora é resultante do somatório das variáveis da motricidade fina (MF) e da motricidade global (MG), Tabela 2.
Tabela 2- Variáveis que constituem cada componente da motricidade fina e da motricidade global.

 Motricidade Fina

Precisão Motora Fina

 Desenhar uma linha através de um percurso - labirinto
 Dobrar papel

Integração Motora Fina

 Copiar um quadrado
 Copiar uma estrela

Destreza Manual

 Transferir moedas
Motricidade Global
Coordenação Bilateral
 Saltar no mesmo sítio - ambos os lados sincronizados
 Bater os pés e os dedos - ambos os lados sincronizados

Equilíbrio

 Andar sobre uma linha
 Manter-se em apoio unipodal sobre uma trave - olhos abertos
Corrida de Velocidade e Agilidade
 Saltar em apoio unipodal no mesmo sítio
Coordenação dos Membros Superiores
 Largar e apanhar a bola - duas mãos
 Driblar uma bola - alternando mãos

Força

 Flexões de braços - pernas em flexão (*)
 Abdominais

Legenda:

(*) O termo mencionado deveria ser referido como: Extensões de braços – pernas em flexão, de acordo com a terminologia utilizada na literatura do treino de força.

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